segunda-feira, 18 de março de 2013

Encontro de Jesus com a mulher adúltera



"Vá e não tornes a pecar."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Jo 8, 3-11)

Essa  passagem bíblica nos leva a pensar em Jesus como o Sol... o texto diz que Jesus chegou ao templo logo nas primeiras horas da manhã... a noite mal tinha ido embora, o sol começava a se levantar no horizonte e, como luz, Jesus chegou para iluminar o Templo com seus ensinamentos. Uma luz que estava ali, a disposição, para quantos quisessem se deixar banhar por ela.

Mas naquela manhã, nem tudo era luz. Havia trevas no coração dos doutores da lei, que também chegaram cedo ao Templo... eles sempre queriam encontrar um jeito de complicar a vida de Jesus, e naquela manhã não foi diferente. 

Em meio a todo o burburinho do Templo, escutava-se, aqui e ali, o pregão dos comerciantes, ovelhas balindo, pássaros cantando. Provavelmente na rua também o movimento começava a aumentar, legiões romanas deviam estar treinando ali por perto, fazendo-se ouvir o som de sua marcha. E no Templo um vai e vem de gente chegando e saindo. Era mais um dia que começava em Jerusalém, um dia como qualquer outro. Mas neste dia, Jesus estava ali, no Templo, falando a todos que pudessem ouvir. Seus discípulos o ouviam com atenção, tentando beber cada palavra com sofreguidão, cheios de entusiasmo. E muitos outros se aproximavam para ouvi-lo... talvez mais por curiosidade. Outros paravam em volta, distraídos. Quantos não devem ter prestado atenção ao tom daquela voz, a doçura do seu sorriso, aos seus gestos, ao brilho penetrante daqueles olhos - olhos que viam até o mais íntimo das almas.

Mas eis que, de repente, tudo que era normal e rotineiro, se transforma. Escuta-se, vinda da rua, uma grande gritaria. Vários homens irados, possessos, alvoroçados arrastam pelos cabelos uma mulher, machucada, suja, rasgada. Levam-na para perto de Jesus, que se levanta para saber o que acontece... Os homens empurram a mulher, que cai aos pés dele. As lágrimas dela misturaram-se com a poeira das ruas e seu rosto estava sujo - de lama... e também de sangue, pois fora esbofeteada por seus algozes. Seus cabelos estavam em alvoroço. Ela sentia muito medo, chorava baixinho... de aflição e humilhação. Ela sabia o que ia lhe acontecer.

Um dos homens mais velhos, que parecia ser o líder daquela horda, lança para Jesus a seguinte pergunta, em tom de ironia: 
- Mestre, essa mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?

Nesse momento Jesus se inclinou até o chão e com o dedo começou a rabiscar na areia... Com os olhos abaixados ele sentia a tensão que se criava em volta dele. Sabia que todos ali esperavam por sua resposta. Profundo conhecedor da dureza da lei do judaísmo - que mandava apedrejar até a morte uma mulher adúltera - ele não podia ir contra aquela determinação. Mas ele precisava fazer chegar ao coração dos que estavam ali a Boa Nova que veio anunciar. Ele precisava tentar fazer com que os escribas e os fariseus, presos a ditadura da lei mosaica, conhecessem o verdadeiro sentido de tudo que ele vinha pregando entre eles... Jesus também sentia o medo que paralisava aquela mulher ali, jogada no chão, humilhada, apavorada com o que lhe ia acontecer. Como fazer com que aquelas pessoas ali entendessem que, acima de qualquer lei,   estava o valor de uma vida humana... como fazê-los entender que a verdadeira religião não é exercer o juízo e o julgamento, mas sim a misericórdia e o perdão...? A vida daquela pobre mulher estava nas mãos daqueles homens... As pessoas não entendiam a atitude de Jesus, abaixado, riscando o pó da terra com o dedo, enquanto todos em volta se armavam com pedras, esperando a hora de atirá-las... Acho interessante, neste momento, a analogia entre PEDRA e PÓ DE TERRA... Os representantes da lei de Moisés se armavam com pedras, pensando em matar, enquanto o carpinteiro de Nazaré remexia o pó da terra, como se a nos dizer: não se esqueçam que Deus Pai, que lhes deu a vida, "formou o homem do pó da terra (conf. Gn 2,7)... Pura analogia entre morte e vida.

Então, o Mestre se levantou... e calmamente falou:
- Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.

Ah... neste momento, os olhos de todos - que já tinham nas mãos uma pedra pronta para ser atirada - foram desviados da mulher para dentro de si. Jesus fez com que cada um olhasse para dentro de seu coração e vasculhassem bem, procurando onde estava o direito de julgar, condenar e sentenciar quem quer que fosse!  
O texto bíblico diz que todos foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos... Você consegue imaginar a cena? Quantos ali presentes já não tinham cobiçado a mulher do próximo? Quantos ali não eram também adúlteros? Os mais velhos, certamente por ter mais experiência de vida, foram os primeiros a se conscientizarem da situação... muito provavelmente largaram as pedras no chão, abaixaram a cabeça, e saíram de fininho, envergonhados.

... E Jesus ficou sozinho com a mulher... só então Jesus olhou para ela. Antes ele não a tinha olhado, pois não queria que ela sentisse sobre si mais um olhar acusador, dentre tantos. Em nenhum momento Jesus apontou para ela o dedo acusador. Nesse momento em que Ele a olhou, posso imaginar quanto amor havia naquele olhar. Era um olhar de misericórdia, de perdão. E quando falou em momento nenhum Jesus disse que ela era inocente. Jesus a amou apesar do seu pecado. O pecado é odioso, mas o pecador é um ser humano degradado que precisa de misericórdia e perdão para que possa ter a oportunidade de refazer sua vida, desvencilhando-se de seus erros e vencendo suas fraquezas. E diz a ela, naquele tom de voz que é severo sem deixar de ser suave:
- Ninguém te condenou! Eu também não te condeno... vai e não tornes a pecar!

E naquele dia a mulher experimentou o grande amor de Deus... ela se sentiu amada no mais íntimo do seu ser. E foi justamente naquele momento, quando ela se encontrava no fundo do poço, seduzida por um amor adúltero, por um homem que certamente fizera a ela muitas promessas enganosas, que ela conheceu o que é o verdadeiro Amor - aquele que se ocupa com cada detalhe de nossa vida, que sabe as dificuldades que enfrentamos, em como muitas vezes, por fraqueza, fazemos escolhas erradas que nos levam para longe da vontade de Deus. Um Amor que não se recusa a derramar sua graça e seu perdão gratuito, sem nos pedir explicações, pois conhece todas as nossas limitações.

Que sempre na nossa vida, quando estivermos fragilizados pelo pecado, saibamos buscar Aquele que quer nos mostrar o caminho certo a seguir, e nos dar uma nova oportunidade de recomeçar. E que este encontro nos ajude a aceitar que existe a possibilidade de uma nova chance para que façamos as escolhas corretas. Que aos nos aproximarmos de Jesus saibamos reconhecer que este encontro é uma nova chance de recomeçar, de erguer a cabeça e superar os erros cometidos.