domingo, 14 de janeiro de 2024

Encontro de Jesus com os primeiros discípulos

  "Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: “Que procurais?”. "
    
Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Jo 1, 35-51)


Neste trechinho do Evangelho de São João - uma das mais belas passagens, por sinal - São João Batista aponta para Jesus, o "Cordeiro de Deus". Sempre que ouço essas palavras na missa, me emociono, pois fico imaginando a cena, do brilho no olhar de São João ao avistar o Mestre e na alegria de poder anunciá-lo, fazê-lo conhecido por aqueles que o buscam. Essa convicção de São João Batista certamente nasceu de seu encontro pessoal com o Senhor. Este anúncio despertou o interesse e a curiosidade dos discípulos, que logo se colocaram a caminho. Ansiosos e com o coração sedento, seguem o Mestre em silêncio, certamente um pouco perdidos no meio daquela grande multidão que ia pelo caminho. O Senhor, que tudo percebe e a tudo está atento, viu os recém-chegados e se dirige a eles, para que se inicie o encontro: 
 
"Que procurais?"

Os discípulos devem ter ficado espantados com a abordagem de Jesus, e prontamente responderam com outra pergunta: 
 
"Mestre, onde moras?"
 
E o verdadeiro encontro ia começar: a busca e a disposição dos discípulos encontram a disponibilidade do Senhor, e seu convite" 

"Vinde e vede!"

E passam com o Senhor todo aquele dia, usufruindo de sua presença, de suas palavras. Ouviram de João o anúncio e foram viver sua própria experiência de estar na presença de Jesus, conviver com ele intimamente, mergulhar em seu Mistério, saboreá-lo. Muitos que viveram naquela época também ouviram o anúncio do Batista, mas perderam-se pelos caminhos, não buscaram o Mestre, não gozaram de sua intimidade. Fico triste ao pensar na nossa situação hoje em dia nesse mundo tão globalizado, tão virtual, onde as coisas e as mensagens se tornam tão passageiras, tão descartáveis, e corremos o risco de viver na superficialidade do conhecimento de Jesus.


Creio que aqueles homens, diante da pergunta de Jesus ("O que procurais?") ficaram com a alma inquieta, pois confrontaram aquele vazio no peito, aquela sede que não se aplaca no coração. Como nós!!! Somos como aqueles discípulos, buscando ter esse encontro com Deus, essa intimidade que nos renova! Queremos estar com Jesus, permanecer com Ele, experimentar o Senhor! Que momento devem ter vivido aqueles homens... um encontro tão maravilhoso que marcou suas  vidas para sempre. E não se  contiveram em si! André logo foi a procura de seu irmão Pedro, e tanto fez que o levou para Jesus. É isso que acontece quando encontramos o Senhor... não nos limitamos dentro de nós mesmos - transbordamos para outra pessoa!


E Pedro? Como deve ter se ficado ao sentir sobre si os olhos profundos do Senhor, desnudando sua alma, falando a ele com aquela voz ao mesmo tempo firme e doce... Jesus é capaz de despertar aquilo que está presente dentro do coração de todo ser humano - às vezes adormecido - o desejo de Deus.

"O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus.” (CIC, nº 27). 
 

Também Santo Agostinho, nas “Confissões”, fala a este respeito: 
 
“Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim...” 
(X, 27,38). 
 
 
E Felipe, ouvindo do Senhor aquele convite: "Segue-me!" sentiu-se escolhido pelo Senhor que sabe como enxergar você no meio de uma multidão, pois para Ele você é único, e faz questão de que você saiba que foi Ele quem te escolheu, Ele quem te chamou... E Felipe faz seu anúncio a Natanael: "Achamos aquele que os profetas anunciaram!"...  Cético a princípio, Natanael decide ouvir o testemunho de Felipe e vai até Jesus. É mais um a se sentir único, escolhido pelo Mestre, que já o tinha "visto" antes de ser chamado. Jesus conhecia o coração de Natanael, sabia que ele buscava a Deus com um coração sedento.

 
E assim foi que esses homens todos tiveram suas vidas atingidas por algo muito profundo. Sentiram-se envolvidos pelo olhar de Jesus, por seu chamado. Ainda hoje Jesus segue com seu chamado. Muitos são chamados mas poucos respondem. Os homens hoje também continuam buscando, procurando, mas quase sempre em lugares e pessoas erradas, daí o vazio e a desilusão que muitos sentem.


A pergunta que Jesus faz aos discípulos, ele a faz também a todos aqueles que o buscam, que leem e ouvem o evangelho. Esta é uma pergunta existencial e por isso, essencial para a caminhada da fé. Esta pergunta se dirige àqueles que estão sempre em busca, inquietos e se interrogando sobre o essencial. Todas as pessoas estão sempre em busca de algo mais, por esse motivo, sempre insatisfeitas. Consciente ou inconscientemente, somos todos garimpeiros à procura do diamante da felicidade, andarilhos a procura da pedra preciosa, pela qual estamos dispostos a vender, com alegria, tudo o que possuímos (Barreiro, p. 57).


Que nós, no meio de tantas informações nesse mundo tão digitalizado, cheio de tantos "influencers" digitais, não percamos o nosso foco, que deve ser a busca por Deus, a intimidade com o Senhor... pois estar com Aquele que nos conhece e que nos chama não tem comparação com nada do que esse mundo possa nos oferecer. Ele nos chama porque sabe que o procuramos. Conhece nossos desejos e buscas. Toca fundo no nosso coração, despertando o desejo de Deus que está em todo ser humano, as vezes tão adormecido que nem nos damos conta.




sexta-feira, 19 de abril de 2019

Encontro de Jesus com o ladrão na cruz



“Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Lc 23, 33-43)


A cena desse Evangelho se dá no momento da cruz, um momento de muita e dor e sofrimento, que naquele dia acontecia para Jesus e dois outros homens que estavam sendo crucificados ao seu lado.
A crucificação era uma sentença de morte muito dolorosa, era uma tortura; tiras de couro e pregos eram usados para pendurar o condenado no madeiro da cruz. Como um animal indefeso que se prendia numa cerca de arame farpado, a vítima poderia sobreviver por dias sofrendo dores atrozes. A morte normalmente ocorria por sufocação, pois a vítima, pendurada por suas mãos, ia perdendo a força para inspirar.

Os três ali no alto da cruz sabiam o que ia acontecer. Sabiam que iriam enfrentar uma morte muito dolorosa, numa condenação ultra humilhante e vergonhosa, sabiam que sua vida na terra chegava ao fim. Esse momento de dor e sofrimento foi acompanhado por uma grande multidão de pessoas: altas autoridades romanas e judaicas, soldados e homens comuns. Havia aqueles que estavam satisfeitos com a condenação de Jesus, pois assim terminava a ameaça que Ele representava. E havia todos aqueles que O amavam, que O conheceram  durante momentos de suas pregações e seus milagres.

Haviam três cruzes no Monte Calvário, e na cruz do meio estava Nosso Senhor.
Na primavera do ano 33 d.C., a crucificação desses três homens mudou a história do mundo. Os soldados romanos martelaram pregos através dos pulsos e tornozelos deles e os deixaram esperando a morte.

 “Um homem morreu com o pecado em si e sobre si. Um segundo homem morreu como pecador, mas sem a culpa sobre si. O terceiro morreu com culpa sobre Ele, mas não era culpado.”  
(citação encontrada na contracapa de uma Bíblia antiga)

"Um homem morreu com o pecado em si e sobre si."
Foi o primeiro entre dois ladrões  que pela lei recebeu a punição que merecia. Ele foi sentenciado e condenado por um juiz investido da autoridade de César. Morreu com raiva. Devia ter raiva de si mesmo por ter sido pego. Sentia raiva do juiz que o sentenciou, e de todos que o decepcionaram ao longo de sua vida. E estava com muita raiva de um homem inocente, chamado Jesus, que estava ali ao seu lado. Ele não era o único, muitos outros, ali na multidão que assistiam a crucificação, também estavam assim. Afinal, era muito fácil ficar furioso com alguém que se dizia ser a luz e a esperança do mundo e que acabou pendurado na cruz, como um criminoso comum. Sim, este ladrão sentia raiva de Jesus por Ele ser incapaz de ajudar a si mesmo ou a qualquer outro (Lucas 23, 39). Este foi o primeiro ladrão que morreu com seu pecado dentro de si e sobre si.

"Um segundo homem morreu como pecador, mas sem a culpa sobre si."
O segundo ladrão, quando viu as coisas extraordinárias que aconteciam naquela hora, quando a escuridão dominava a terra, mudou seu coração. Virou-se para o primeiro ladrão e disse: ""Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum." (Lucas 23, 40-41) E acrescentou: Jesus lembra-te de mim quando tiveres entrado no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23, 42-43).
Essa foi uma das conversas mais importes que a Bíblia nos apresenta, pois nos falam da gratuidade do perdão de Deus. O perdão e a vida eterna são oferecidos a todos que tem fé. Ali, no fim de sua vida, o segundo ladrão não tinha tempo para mais nada. Não tinha como mudar sua vida, apagar seus crimes. Somente teve tempo para o arrependimento e para mostrar que tinha fé na misericórdia e no perdão de Deus. E Jesus, diante disso garantiu-lhe o seu perdão. O segundo ladrão morreu como pecador, mas sem a culpa sobre si. A culpa dos ombros deste ladrão, foi colocada sobre Jesus, aquele que carregou nossos pecados.

" O terceiro morreu com culpa sobre Ele, mas não era culpado."
Naquele dia, Jesus levou sobre Seus ombros a culpa do mundo. Ele morreu com o peso dos nossos pecados do mundo sobre si, mas sem ter cometido erro algum. Três dias depois, Ele ressuscitou dos mortos para mostrar que a Sua morte, trágica como foi, não tinha sido um erro. O corpo ressurreto de Cristo marcado pelos cravos deu a centenas de discípulos todas as evidências que precisavam para crer que Ele havia tomado seus lugares morrendo na cruz. O julgamento de Deus caiu sobre Ele ao invés de nós.

Os dois homens que estavam ao lado de Jesus eram malfeitores, ladrões, que estavam cumprindo sua sentença de morte pelos crimes cometidos. Acontecia, para eles, uma justa punição romana. Mas a atenção dos que assistiam a crucificação não estava sobre eles,  já que todo mundo só prestava atenção em Jesus, pois se cometia nele um assassinato: um homem sem pecado algum, que não cometera qualquer crime, estava sendo morto da forma mais cruel e injusta. Ali, na cruz, na Pessoa de Jesus, acontecia uma tentativa de matar a Graça de Deus...
E essa graça de Deus, mesmo nesse momento doloroso e humilhante, se apresentou para aqueles dois ladrões. Pois eles estavam lado a lado daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Na hora da morte acontecia um encontro que os deixava muito próximos da Salvação. Tão próximos do Senhor ali na Cruz, estavam dois tipos de coração: o duro e fechado pelo ódio do ladrão que blasfemou cheio de raiva, juntando-se aos escarnecedores... E o coração arrependido que, mesmo sendo culpado, na presença da Graça de Deus, se sente arrependido de seus erros e encontra esperança no perdão de divino.  Ao invés do ódio e da raiva, escolheu a mansidão, e pediu com humildade ao Senhor:

"Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino..."

Quanta confiança no Senhor demonstravam estas palavras, esta súplica! E Jesus nunca fica indiferente a tamanha fé e humildade... Na pior hora, na hora final de aflição e dor, aquele coração pecador soube escolher estar ao lado da Misericórdia, de buscar a Salvação que se apresentava para ele na presença de Jesus.


Haviam três cruzes no Calvário, naquele dia. A Cruz da Redenção, onde Jesus derramava o seu Sangue por nós. Nas outras, dois homens lutavam com sua dor e sofrimento. E escolhiam onde se colocar: ao lados dos blasfemadores e escarnecedores ou ao lado daqueles que, reconhecendo seus erros, embora sofrendo,  não perdiam a esperança no grande amor de Deus, capaz de nos livrar não da cruz, mas na cruz! Eu consigo imaginar como não devem ter sido doces para o ladrão arrependido aquelas palavras que o Senhor lhe disse:

 "...hoje estarás comigo no paraíso"

Consigo me imaginar... eu, uma pessoa imperfeita, que cometo erros, que reconheço minhas faltas, na pior hora da vida, no momento derradeiro, sofrendo dores e aflições - ouvir tal promessa de Jesus. Imagino a paz que deve deve ter tomado conta dessa alma - uma paz tão grande e sublime! Uma paz que só pode vir do perdão de Deus, um perdão gratuito, sem meio termo, que não exige nada - somente a fé e o arrependimento. É maravilhoso saber que Deus sempre está a nossa espera, sempre nos dando uma chance de nos arrependermos e de nos colocar sob seu abrigo. Penso como deve ser estar lá, naquele lugar, naquele monte, junto aquela cruz... E saber que Deus estava lá em nosso lugar, suportando nossos pecados.

Como é doce saber que participamos intimamente desta história, quando Deus nos mostra que, no sofrimento do Seu Filho, vemos o Seu sofrimento e o Seu amor por nós. Em Sua morte, vemos o pagamento pelos nossos erros, e Sua oferta de perdão. Em Sua ressurreição, vemos a garantia de que estás completamente satisfeito com o preço que Jesus pagou por nós.

Não esqueçamos nunca que esta também é a nossa história. No primeiro ladrão, vemos nosso primeiro desejo de odiar, rejeitar o amor de Deus, deixar nossa raiva nos afastar d'Ele e dos outros. E vemos também como deixar nosso coração ser tocado por Ele, pois desta maneira podemos nos ver como o segundo ladrão, que se arrependeu e demonstrou sua fé em Jesus.




segunda-feira, 19 de junho de 2017

Encontro de Jesus com a mulher pecadora que muito amou



"...e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar."

Leia aqui a passagem biblica correspondente (Lc 7, 37-50)

Um convite para jantar na casa de um fariseu... só isso já nos dá muito o que pensar dessa situação mencionada por São Lucas em seu Evangelho. Ora, como sabemos os fariseus estavam sempre procurando um jeito de deixar Jesus em situação complicada, pois não aceitavam seus ensinamentos. Fico pensando se aquele convite para jantar teria sido uma oportunidade de expor Jesus a alguma situação embaraçosa ou se não passou de uma ostentação do fariseu: afinal Jesus era uma pessoa pública muito conhecida... e tê-lo em sua casa seria de grande ostentação, pois poderia se exibir ao lado de uma pessoa "famosa" como Jesus.

Aprofundando mais a leitura, é bom termos em mente como eram os costumes dos judeus naquela época. Um convite para jantar não era só um convite para participar de uma refeição e conversar, mas sim um ato de grande consideração. As casas daquela época tinham pátios, assim como hoje são as varandas, e tinham os portões sempre abertos, de modo que todos que passavam por perto podiam ver e muitos até entravam e se colocavam junto aos criados para observar as conversas. As refeições eram servidas em mesas longas e baixas, onde as pessoas se sentavam reclinadas, quase deitadas de bruços com as pernas esticadas.

E era sinal de boa hospitalidade alguns rituais, como mandar criados - ou o próprio dono da casa  - para lavar e enxugar  respeitosamente os pés e as mãos dos convidados, já que naquela época as estradas eram cobertas de areia e terra, e os pés dos viajantes ficavam sujos e empoeirados. 
Hoje em dia abraçamos nossos convidados ao chegarem em nossa casa, ou apertamos sua mão cordialmente. Naquela época usava-se o costume do "santo ósculo" (beijo na testa), e em sinal de respeito ungia-se a testa do convidado com azeite. Nesse jantar nenhum desses sinais de hospitalidade foi demonstrado por Simão, o fariseu. Certamente nosso Senhor observou todos estes sinais de falta de hospitalidade por parte de seu anfitrião, mas mesmo assim sentou-se a mesa, pois a Ele - livre de qualquer preconceito - importava estar próximo de todos e anunciar o Reino de Deus. 

E então ocorre um fato inusitado: uma mulher da cidade, conhecida por sua má reputação, adentra o local trazendo consigo um vaso de alabastro (uma variedade de carbono de cálcio produzido por depósito natural e hidratado) com unguento (perfume). Seu nome não foi citado em nenhuma parte do Evangelho, apenas mencionada como "pecadora". Este termo referia-se a mulheres de má reputação, que cometiam pecados.Não são mencionados os pecados que ela cometia, mas dentro do contexto da época podemos deduzir que era uma prostituta. Mulheres assim costumavam sempre trazer perfumes consigo, usavam até um colar perfumado para atrair os homens e instigá-los a cometer o pecado. O certo é que, seja qual for o pecado daquela mulher, ela já não mais os cometia, pois o texto bíblico fala claramente que ela se pôs aos pés de Jesus e começou a chorar. Suas lágrimas nada mais eram do que sinal de sua conversão. Naturalmente ela já encontrara Jesus antes, já O ouvira pregar e suas palavras tinham penetrado o seu coração esmagado pela culpa. E ali, na casa de Simão, aos pés do Senhor, com a alma envolta em uma onda de dor e alegria, fazendo com que lágrimas transbordassem de seus olhos e de seu coração, tinha um coração feliz, pois só no coração dos que sabem que foram perdoados existe uma dor que faz chorar e liberta. 

Todo o povo ali presente conhecia a vida daquela mulher, e presenciando aquela cena naturalmente muitos pensavam assim como Simão: "Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora."  Olhares e pensamentos acusadores... 

"suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume."  
Lavar os pés, beijar e ungir - gestos esperados do anfitrião Simão - foram oferecidos pela pecadora que não se importou com os olhares e pensamentos maldosos a seu respeito. Rompeu as barreiras e os preconceitos e se aproximou daquele que a tratara com misericórdia... não quis ficar de longe, espiando: assumiu o seu lugar aos pés do Senhor.

As lágrimas que regavam os pés de Jesus não eram lágrimas de tristeza, mas sim de alegria por saber que estava no melhor lugar que poderia estar: aos pés daquele que nunca a excluiu nem condenou, mas a acolheu e redimiu. Eram lágrimas de gratidão e de amor,  que dissolveram todo o contágio de impureza de suas mãos, merecendo tocar o Senhor.

Em seguida, soltou seus cabelos e  com eles enxugou os  Seus pés... Para uma mulher judia soltar os cabelos em local público era considerado uma falta grave, uma atitude obscena e repudiada, pois ela só os soltava diante de seu marido, na intimidade de seu quarto. Era seu coração convertido, enternecido, que se mostrava tão íntimo de Jesus que fazia com que não se importasse com o julgamento dos outros.  Quando beijou os pés do Senhor a mulher dizia-lhe intimamente: "Meu Senhor, és bem-vindo  na minha vida, no meu coração. Faça de mim, Senhor, a cada dia, uma pessoa renovada no seu Amor."

E o perfume com que ungiu os pés de Jesus era o melhor que ela podia lhe oferecer. Antes seu perfume atraía o pecado, agora era oferecido a Deus que se fazia presente ali naquela mesa, naquela refeição - um ato de verdadeira adoração.

 "Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora." 
No coração sombrio de Simão brotou esse pensamento amargo... Sabendo que não tinha sido um bom anfitrião, negando a Jesus as gentilezas do lava-pés, do beijo e da unção, em vez de se sentir culpado, resolveu criticar secretamente em seu coração a mulher que fazia tais atos com tanto amor e consideração a Jesus. Incomodou-se com a presença da mulher, com o tratamento atencioso e amoroso que ela dedicou a Ele. Como Jesus, "que se dizia profeta" podia não saber que ela era indigna? Será que Jesus não percebia isso? Mal sabia ele que o Senhor, que enxerga além das aparências, foi capaz de ler em seu coração toda a maldade de seus pensamentos e intenções. E sabendo disso, Jesus o coloca contra a parede ao contar a parábola dos devedores. Simão sabia que aquilo se referia a ele e a mulher! E como ele, todos os presentes. Que vergonha para aquele homem tão preconceituoso! 

Jesus conhece os corações! Sabe o que vai dentro de cada um e foi muito fácil para Ele conhecer o íntimo de Simão e da mulher. No íntimo de Simão havia escuridão - preconceito, orgulho... Um homem que se achava superior, tendo uma vida reta,  que se achava bom e justo pois pertencia a elite religiosa, com influência na comunidade. A mulher em seu íntimo trazia um coração carente, cheio de amor e gratidão... Enquanto Simão trazia Jesus sentado à sua mesa, a mulher trazia Jesus dentro do coração!

Aquele encontro com Jesus marcou a vida daquela mulher... trouxe para ela uma verdadeira mudança de vida, assumindo sua própria identidade que tinha sido perdida por causa das más escolhas que fizera. Arrependida da vida que levava assumiu aquilo que Deus queria que ela fosse: uma mulher livre, que podia andar de cabeça erguida por onde andasse, uma criatura nova! Foi corajosa, sim; mas na verdade o que a caracteriza é ter sido aquela que "muito amou", como o próprio Jesus a descreveu!

Quero eu poder chegar aos pés de Jesus e me ajoelhar silenciosamente. Abrir meu frasco de perfume e dar a Ele o que tenho de mais precioso... derramar suavemente nos seus pés minhas lágrimas de gratidão por tanta misericórdia que recebo sem merecer... 
Tocar com minhas mãos os Seus pés, em gratidão por guiar os meus por um caminho mais seguro. 
Beijar os Seus pés, em gratidão por terem andado por tantos caminhos fazendo o bem, caminhando até a cruz para me salvar. 
Meu perfume pode não ser muito valoroso, mas certamente é o melhor que tenho para oferecer a Jesus e sei que Ele, me enxergando através de Seus olhos cheios de Amor, certamente vai reconhecer que o que lhe dou foi adquirido com muito cuidado. 

Quero eu, também, encostar minha cabeça bem juntinho dos Seus pés, enxugando-os com os meus cabelos como se fossem um lenço. Pois sei que Ele vai saber reconhecer o significado de cada lágrima minha, a gratidão que o deslizar do meu cabelo em Seus pés representa. Jesus sabe que Ele está em meu coração. Sabe que sempre quero estar aos Seus pés, pedindo perdão e agradecendo muito por esse perdão. Aos Seus pés, Jesus, sou banhada por Sua Misericórdia, pois em Ti está um Amor que não existe em lugar nenhum: um Amor no qual eu encontro descanso e com o qual sei que posso contar para seguir adiante. Obrigada, meu Jesus querido, por Sua Misericórdia infinita!




segunda-feira, 16 de junho de 2014

Encontro de Jesus com a profetisa Ana



"louvava a Deus e falava de Jesus a todos."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Lc 2, 36-38)

Para pensarmos neste encontro, primeiramente pensemos nesta mulher, Ana. A Bíblia nos fala muito pouco sobre ela, apenas três versículos. Ora, são poucas informações para entendermos um encontro de tamanho significado como este.

Ana... seu nome significa "graça", "favor". Era filha de Fanuel, da tribo de Aser, tribo esta que foi levada em cativeiro na Assíria em 722 a.C. Aser significa "felicidade"...

O texto fala que ela era viúva desde muito jovem. Que foi casada por sete anos. Naquele tempo, em Israel, uma mulher estava pronta para o casamento à partir dos 12/14 anos. Daí, Ana teria ficado viúva por volta dos 19/21 anos! Não sabemos, pelo texto, se seu marido morreu doente. Mas é fácil imaginar como ela deve ter sofrido. Seus longos dias de luto, sofridos, doloridos. Mulher temente a Deus, colocou aos pés do Senhor todo o seu sofrimento. E pedia a Ele o conforto para sua alma de mulher, para o seu coração partido. E foi nos braços amorosos de Deus que ela encontrou refúgio. Agradecida, dedicou todos os seus anos ao serviço do Senhor, adorando-O em seu Templo, cultivando a intimidade com Deus, tendo a cada dia novas revelações de Suas palavra. 

Seus anos assim se passaram. Envelheceu, seu corpo perdeu o viço e a beleza e sua força foi sumindo... Mas sua alma a cada ano ficava mais bela. Se o seu corpo se cansava e sofria com o desgaste do tempo, seu espírito se elevava a cada dia, subindo a montanha até a presença de Deus... Era o Senhor que renovava as forças de Ana a cada manhã, quando, em oração, ela buscava a Sua face.

Mulher de Deus, conhecia as profecias e rezava a Deus todos os dias para que enviasse logo o Messias, que nasceria em Belém, de uma virgem... e salvaria o povo de seus pecados. O que ela não imaginava é que, naquela manhã que começava como outra qualquer, algo especial aconteceria... Este seria um grande dia! Como sempre, ela levantou-se cedo, lavou-se e se arrumou para ir ao Templo. O sol ia nascendo, calmamente, esquentando seus ossos cansados e doloridos. Lentamente ela foi pelas ruas, recitando salmos de louvor para não pensar em suas dores, que eram muitas! Chegando ao Pátio das mulheres, Ana percebeu uma grande agitação.

Apressou-se e viu seu conhecido, o velho Simeão, falando alto e segurando um lindo bebezinho ao colo. Ana já se acostumara a presença de Simeão, que todos os dias vinha ao Templo para esperar pela promessa de Deus: de que, antes de morrer, veria com os seus olhos, o Messias de Israel! Vendo-o naquela manhã, o coração de Ana acelerou... será??? Nem sabia direito o que pensar!

Os olhos embevecidos de Simeão, fixos naquela criança, brilhavam ao dizer, em bom som, as palavras que encheram o coração de Ana de alegria: "ó Deus, pode agora despedir seu servo em paz, pois meus olhos já viram a tua salvação..."   Seria aquela criança o tão esperado Messias...?

O texto bíblico não nos revela mais nada... mas consigo imaginar que Ana deve ter se aproximado da criança e de sua mãe... Deve ter chegado bem perto de Maria, colocado seus braços ao redor dela, carinhosamente, enquanto seus olhos se encantavam com aquele bebezinho.

E não se fez de rogada... pois o texto nos diz que "chegando ela à mesma hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém esperavam a libertação."  Ana foi escolhida por Deus para ser a portadora da Boa Nova da Salvação... porque O amava e O adorava, o Senhor a ela se revelou. Quantos, naquele tempo, esperavam pelo Messias, e nem sequer imaginavam que naquele dia Ele se apresentava no templo... Mas Ana foi escolhida, porque esperava com fé e estava preparada para essa profunda revelação de Deus.

De idade avançada, muito provavelmente não viu Jesus exercer seu ministério, mas teve a graça de anunciar a todos os que ali estavam, naquela manhã, o grande motivo de sua vida: Jesus, o Salvador, aquele a quem tanto se esperava estava ali, diante dela...

Que a devoção dessa mulher nos inspire a buscar sempre a presença de Deus em louvor e adoração...


segunda-feira, 18 de março de 2013

Encontro de Jesus com a mulher adúltera



"Vá e não tornes a pecar."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Jo 8, 3-11)

Essa  passagem bíblica nos leva a pensar em Jesus como o Sol... o texto diz que Jesus chegou ao templo logo nas primeiras horas da manhã... a noite mal tinha ido embora, o sol começava a se levantar no horizonte e, como luz, Jesus chegou para iluminar o Templo com seus ensinamentos. Uma luz que estava ali, a disposição, para quantos quisessem se deixar banhar por ela.

Mas naquela manhã, nem tudo era luz. Havia trevas no coração dos doutores da lei, que também chegaram cedo ao Templo... eles sempre queriam encontrar um jeito de complicar a vida de Jesus, e naquela manhã não foi diferente. 

Em meio a todo o burburinho do Templo, escutava-se, aqui e ali, o pregão dos comerciantes, ovelhas balindo, pássaros cantando. Provavelmente na rua também o movimento começava a aumentar, legiões romanas deviam estar treinando ali por perto, fazendo-se ouvir o som de sua marcha. E no Templo um vai e vem de gente chegando e saindo. Era mais um dia que começava em Jerusalém, um dia como qualquer outro. Mas neste dia, Jesus estava ali, no Templo, falando a todos que pudessem ouvir. Seus discípulos o ouviam com atenção, tentando beber cada palavra com sofreguidão, cheios de entusiasmo. E muitos outros se aproximavam para ouvi-lo... talvez mais por curiosidade. Outros paravam em volta, distraídos. Quantos não devem ter prestado atenção ao tom daquela voz, a doçura do seu sorriso, aos seus gestos, ao brilho penetrante daqueles olhos - olhos que viam até o mais íntimo das almas.

Mas eis que, de repente, tudo que era normal e rotineiro, se transforma. Escuta-se, vinda da rua, uma grande gritaria. Vários homens irados, possessos, alvoroçados arrastam pelos cabelos uma mulher, machucada, suja, rasgada. Levam-na para perto de Jesus, que se levanta para saber o que acontece... Os homens empurram a mulher, que cai aos pés dele. As lágrimas dela misturaram-se com a poeira das ruas e seu rosto estava sujo - de lama... e também de sangue, pois fora esbofeteada por seus algozes. Seus cabelos estavam em alvoroço. Ela sentia muito medo, chorava baixinho... de aflição e humilhação. Ela sabia o que ia lhe acontecer.

Um dos homens mais velhos, que parecia ser o líder daquela horda, lança para Jesus a seguinte pergunta, em tom de ironia: 
- Mestre, essa mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?

Nesse momento Jesus se inclinou até o chão e com o dedo começou a rabiscar na areia... Com os olhos abaixados ele sentia a tensão que se criava em volta dele. Sabia que todos ali esperavam por sua resposta. Profundo conhecedor da dureza da lei do judaísmo - que mandava apedrejar até a morte uma mulher adúltera - ele não podia ir contra aquela determinação. Mas ele precisava fazer chegar ao coração dos que estavam ali a Boa Nova que veio anunciar. Ele precisava tentar fazer com que os escribas e os fariseus, presos a ditadura da lei mosaica, conhecessem o verdadeiro sentido de tudo que ele vinha pregando entre eles... Jesus também sentia o medo que paralisava aquela mulher ali, jogada no chão, humilhada, apavorada com o que lhe ia acontecer. Como fazer com que aquelas pessoas ali entendessem que, acima de qualquer lei,   estava o valor de uma vida humana... como fazê-los entender que a verdadeira religião não é exercer o juízo e o julgamento, mas sim a misericórdia e o perdão...? A vida daquela pobre mulher estava nas mãos daqueles homens... As pessoas não entendiam a atitude de Jesus, abaixado, riscando o pó da terra com o dedo, enquanto todos em volta se armavam com pedras, esperando a hora de atirá-las... Acho interessante, neste momento, a analogia entre PEDRA e PÓ DE TERRA... Os representantes da lei de Moisés se armavam com pedras, pensando em matar, enquanto o carpinteiro de Nazaré remexia o pó da terra, como se a nos dizer: não se esqueçam que Deus Pai, que lhes deu a vida, "formou o homem do pó da terra (conf. Gn 2,7)... Pura analogia entre morte e vida.

Então, o Mestre se levantou... e calmamente falou:
- Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.

Ah... neste momento, os olhos de todos - que já tinham nas mãos uma pedra pronta para ser atirada - foram desviados da mulher para dentro de si. Jesus fez com que cada um olhasse para dentro de seu coração e vasculhassem bem, procurando onde estava o direito de julgar, condenar e sentenciar quem quer que fosse!  
O texto bíblico diz que todos foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos... Você consegue imaginar a cena? Quantos ali presentes já não tinham cobiçado a mulher do próximo? Quantos ali não eram também adúlteros? Os mais velhos, certamente por ter mais experiência de vida, foram os primeiros a se conscientizarem da situação... muito provavelmente largaram as pedras no chão, abaixaram a cabeça, e saíram de fininho, envergonhados.

... E Jesus ficou sozinho com a mulher... só então Jesus olhou para ela. Antes ele não a tinha olhado, pois não queria que ela sentisse sobre si mais um olhar acusador, dentre tantos. Em nenhum momento Jesus apontou para ela o dedo acusador. Nesse momento em que Ele a olhou, posso imaginar quanto amor havia naquele olhar. Era um olhar de misericórdia, de perdão. E quando falou em momento nenhum Jesus disse que ela era inocente. Jesus a amou apesar do seu pecado. O pecado é odioso, mas o pecador é um ser humano degradado que precisa de misericórdia e perdão para que possa ter a oportunidade de refazer sua vida, desvencilhando-se de seus erros e vencendo suas fraquezas. E diz a ela, naquele tom de voz que é severo sem deixar de ser suave:
- Ninguém te condenou! Eu também não te condeno... vai e não tornes a pecar!

E naquele dia a mulher experimentou o grande amor de Deus... ela se sentiu amada no mais íntimo do seu ser. E foi justamente naquele momento, quando ela se encontrava no fundo do poço, seduzida por um amor adúltero, por um homem que certamente fizera a ela muitas promessas enganosas, que ela conheceu o que é o verdadeiro Amor - aquele que se ocupa com cada detalhe de nossa vida, que sabe as dificuldades que enfrentamos, em como muitas vezes, por fraqueza, fazemos escolhas erradas que nos levam para longe da vontade de Deus. Um Amor que não se recusa a derramar sua graça e seu perdão gratuito, sem nos pedir explicações, pois conhece todas as nossas limitações.

Que sempre na nossa vida, quando estivermos fragilizados pelo pecado, saibamos buscar Aquele que quer nos mostrar o caminho certo a seguir, e nos dar uma nova oportunidade de recomeçar. E que este encontro nos ajude a aceitar que existe a possibilidade de uma nova chance para que façamos as escolhas corretas. Que aos nos aproximarmos de Jesus saibamos reconhecer que este encontro é uma nova chance de recomeçar, de erguer a cabeça e superar os erros cometidos.



domingo, 13 de janeiro de 2013

Encontro de Jesus com a Samaritana



"Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede"

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Jo 4, 5-42)

De todos os encontros que a Bíblia narra, talvez este de Jesus com a mulher samaritana seja o mais  surpreendente... Primeiramente por judeus e samaritanos serem tão avessos uns aos outros (devido a um incidente ocorrido mais ou menos no ano de 722 a.C., narrado em II Rs 17, 3-6.17-24). Essa aversão era levada tão a sério que os judeus evitavam até pisar no território da Samaria. Mas a Bíblia diz que "devia passar por Samaria" (v. 4). Ora, por quê Jesus devia passar por lá? É óbvio que Ele, a fim de evitar um confronto com os fariseus antes do tempo resolveu se afastar da Judéia e ir para a Galiléia. A trilha que os judeus costumavam usar era entrar na Galiléia pelo norte da Judéia, a leste do Rio Jordão, sem precisar passar pela Samaria. Teria, então, acontecido alguma coisa diferente? O Rio Jordão, por acaso, teria enchido com as chuvas, impossibilitando a passagem por lá? Jesus pretendia adiantar a viagem, cortando caminho pela Samaria? Ou haveria algum compromisso maior, de ordem divina, para que Ele passasse por ali? Sim, Ele tinha um compromisso no poço... e justamente ao meio-dia, hora muito pouco provável que alguém estivesse por ali, buscando água. Na hora certa, no local certo, para o encontro preparado por Deus, ali estava Jesus: à beira do poço de Jacó, vendo a Samaritana se aproximar e dizendo a ela que sentia sede. O sol estava forte, Jesus sentia-se cansado e com sede... mas é claro que Ele, que pedia, tinha muito mais a dar... Ele queria dar-se a si mesmo. Usou de sua sede física para atingir a sede espiritual dela.

Observando mais de perto a situação da Samaritana, fica a questão: por que ir buscar água àquela hora, a mais quente do dia? Normalmente as mulheres cumpriam esta tarefa em horários mais cedo, quando era mais fresco... Ela estava sozinha, quando o natural era que fosse com outras mulheres, pois assim era mais seguro.

Isso nos leva a conclusão de que ela era uma mulher de moral duvidosa, com a vida marcada por divórcios e adultérios - o que, naquela época, não a fazia melhor do que uma prostituta comum. Por isso fazia a caminhada ao poço sozinha e num horário em que certamente não encontraria as outras mulheres. Ela vivia à parte da sociedade, excluída do convívio das outras mulheres... muitas vezes deve ter ouvido comentários maliciosos a respeito da vida que levava... Sim, sua vida não era virtuosa... a maledicência social a perturbava, e ela tinha consciência de seus erros e sofria por isso. Mas só Jesus foi capaz de enxergar isso. Enquanto todos a marginalizavam Jesus fez questão de estar ali para este encontro. Ele mostrou a ela compaixão. Era mais uma vez o encontro da misericórdia com uma alma esfarrapada pelo pecado e pela humilhação.

Aquela mulher passou a sua vida inteira procurando alguém em quem pudesse repousar o seu coração. Como ela, assim somos nós. Temos sede de amor, precisamos ser amados. A Samaritana já tinha tido tantos homens (cinco anteriores) e naquele dia vivia já com o sexto homem. Vivia numa ânsia para encontrar um repouso para seu coração. Sentia uma grande necessidade de amor. Mas seu coração nunca se saciava. Buscava, buscava, buscava e não encontrava. Vivia com sede.  Mas naquele dia ela ia encontrar um Homem diferente.

Qual não foi sua surpresa ao ouvir que Jesus se dirigia a ela... uma mulher (na sociedade judaica homens não conversavam com mulheres em público), samaritana (raça considerada pelos judeus como bastardos) e pecadora! Qualquer outro judeu que estivesse ali, naquele poço, ia preferir morrer de sede a pedir água àquela mulher. Ela estava ali, no Poço de Jacó, buscando água na fonte para as suas necessidades, e de repente encontra-se com um homem diferente - um homem que viria a ser uma outra "fonte" da qual ela poderia viver.

Sim, este encontro inusitado deu à Samaritana um desejo de vida nova: "Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede..." (v.15)

E ela foi entendendo, aos pouquinhos, o que Jesus dizia prá ela. Aquela água viva que mataria sua sede de amor de uma vez por todas... Porque quem encontra-se realmente com Jesus recebe no seu coração a água  viva do Espírito Santo, capaz de encher o grande vazio que todo ser tem dentro do seu coração: a sede de Amor.

Ela conseguiu sair de sua situação de pecadora, discriminada e marginalizada e encontrar dentro de si a verdadeira mulher, aquela que estava - como todos nós também estamos - em busca de um caminho para seguir... A luz de Jesus fez com que ela enxergasse as trevas de sua vida e buscasse, no fundo do poço, a experiência da água viva - começava aí o seu processo de cura. Ela encontrou n'Aquele que dizia a ela "sou eu, que falo contigo" (v.26) o seu Salvador.

Ali, no coração daquela mulher, acontecia o que nenhuma prática religiosa poderia alcançar-lhe. O encontro com Jesus fez com que ela verdadeiramente conhecesse a Deus. Ela agora poderia adorar em espírito e verdade, pois a verdadeira adoração se dá no conhecimento do verdadeiro Deus.

Que a exemplo da Samaritana também nós abandonemos no chão o nosso "cântaro" sobrecarregado com nosso comodismo, nossa vida desregrada, nosso egoísmo...Que nossa alma, saciada com a graça, seja impulsionada pela alegria a anunciar a Fonte da Água da Vida.

Que, como ela, ao encontrar a Fonte Verdadeira possamos dizer: "Ó vós todos que tendes sede vinde às águas"... Abandonemos nossos cântaros, e sejamos anunciadores entusiastas - não apenas cheios de conteúdo e de conhecimento da doutrina, mas cheios também de entusiasmo, irradiando a alegria do Senhor, prestando a Ele, assim, a adoração que Lhe é devida.




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Encontro de Jesus com Nicodemos



"a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz"

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Jo 3, 1-21)

Esse texto bíblico conta a história de um encontro muito marcante. Esse encontro aconteceu entre Jesus e Nicodemos. 

Nicodemos era um homem muito importante, um dos grandes mestres da sinagoga, príncipe dos judeus. Naquele tempo os fariseus perseguiam Jesus, querendo encontrar um motivo para prendê-lo e matá-lo. Nicodemos fazia parte deste grupo, mas pensava diferente. Ele se espantava com as coisas que Jesus falava... se impressionava com os milagres que fazia... e não via a hora de estar com Ele. Tantas perguntas ele queria fazer a Jesus... tantas dúvidas queria esclarecer! Sabia que Jesus era um homem santo e abençoado por Deus. Mas como? Ele era um fariseu. Como se aproximar de Jesus, sem se comprometer?

Até que não resistiu mais. Numa noite, ele soube que Jesus estaria reunido com seus discípulos bem próximo a sua casa. Nicodemos então se armou de toda a coragem, calçou suas sandálias, cobriu o rosto com seu manto e saiu pelos becos escuros, escondido nas sombras. O vento soprava forte, a lua se refletia nas paredes das casas... não encontrou ninguém pelo caminho. Ele caminhou rápido, de cabeça baixa. Enfim, chegou à casa, bateu à porta e entrou. Lá está Aquele Homem... quem seria Ele, afinal? Esta noite ele iria descobrir.

Alguns dos presentes ficaram espantados com a chegada de Nicodemos. Olhares se cruzavam, fazendo a mesma pergunta: o que ele quer aqui? Nicodemos nem se deu conta das reações que sua chegada provocou. Só tinha olhos para Jesus... Sentou-se a um cantinho e ficou ouvindo as palavras d'Ele. Ficou tão embevecido com o que escutou que numa certa hora disse a Jesus:  “Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele.” (Jo 3, 2) 

Jesus, que sempre enxergava além das aparências, viu dentro de Nicodemos o grande desejo de conhecimento e respondeu assim: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.” (Jo 3, 3)

Neste momento o coração de Nicodemos, homem instruído, membro do Sinédrio, Doutor da Lei, bateu forte... Ficou confuso, não sabia o que pensar. Durante tantos anos estudou as Escrituras, ensinou na Sinagoga... e nunca tinha ouvido nada parecido com aquilo!!! Ele era um homem letrado, já de certa idade, tinha barba grande e branca e, no entanto, falou a Jesus como se fosse um menino, ingênuo: "Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?" (João 3, 4)

Eu consigo imaginar o cenário que se criou: todos ali, em volta de Jesus e Nicodemos, espantados ao escutar palavras tão inocentes de um homem tão importante! Muitos podem ter sentido menosprezo, outros podem ter tido risos de sarcasmo... mas Jesus não! Jesus o amou e o acolheu, sem sarcasmo, sem ironia... e revelou para ele mais um segredo: "Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus." (Jo 3,5)

Jesus, naquela noite, revelou para Nicodemos que ser religioso nem sempre significa ser conhecedor das verdades de Deus... Nesta noite muito provavelmente Nicodemos nasceu de novo... teve um renascimento espiritual. Nicodemos aprendeu com Jesus que não importava a sua situação social, seu status. Se não renascesse espiritualmente nunca conheceria os mistérios do Espírito de Deus.

Procuro me colocar na situação de Nicodemos. Como deve ter sido difícil para ele - um judeu fariseu - compreender o sentido espiritual das palavras de Jesus! Como entender que o Reino de Deus é algo interior, que nasce, em primeiro lugar, no coração? Ele estava tão acostumado à rigidez da Lei, aos rituais externos do judaísmo que não conseguia pensar com o coração... 

Não é difícil imaginar a confusão interior que as palavras de Jesus provocaram em Nicodemos naquela noite... Todo o seu racional e todo o seu emocional estavam em estado caótico. E esse é o momento em que Deus age. Foi assim no Princípio. A terra estava sem forma, vazia, era o caos. E Deus a criou. Assim Deus fez com Nicodemos... do seu caos interior, do seu vazio espiritual Deus fez uma nova obra - uma nova criação, um renascimento. 

Naquela noite Nicodemos entendeu a diferença entre religiosidade e fé - uma fé verdadeira, que nos leva a adorar a Deus em espírito e verdade.

Naquela noite, Nicodemos foi até Jesus impressionado pelos milagres que Ele fazia. O que chamou a atenção dele foram as coisas externas, que somente os olhos materiais vêem. Mas diante de Sua presença entendeu algo muito maior. Entendeu que o Espírito de Deus é capaz de fazer uma obra nova no seu coração. É capaz de fazer nascer um novo ser.

As palavras de Jesus, naquela noite, não foram só para Nicodemos. São também para nós, hoje. Quantas vezes nos comportamos como ele: percorremos, em nossas noites escuras, um caminho incerto em busca de alguma luz... é uma busca ansiosa, já que nos sentimos inconformados com muitas situações que vivemos. 

Quantas vezes chegamos diante de Jesus com perguntas ingênuas, até mesmo tolas... diante dos mistérios da vida, da religião? Quantas vezes chegamos diante d'Ele com o coração confuso, num verdadeiro caos interior, presos a culpas, ressentimentos, mágoas, pecados que não somos capazes de abandonar? É nesta hora que devemos nos tornar como crianças e nos entregar nas mãos de Deus, humildes, informes, vazios... e nos deixar ser por Ele recriados, refeitos. Ao reconhecermos que estamos vazios espiritualmente, Deus nos molda e nos dá um novo pensar, um novo agir, um novo falar. É o encontro das trevas com a Luz. Nossas trevas e a Luz de Jesus - para nós que buscamos e cremos. 

Que a exemplo de Nicodemos tenhamos a coragem de sair pelos becos escuros e tenebrosos de nossas dúvidas e questionamentos, à procura de Jesus - não atrás dos milagres que Ele pode fazer, mas atrás do Reino de Deus que dever ser buscado em primeiro lugar. Que não nos baste a nossa religiosidade, o nosso conhecimento teológico, nosso cumprimento dos rituais. Que nunca deixemos de buscar o novo nascimento. Que nunca sejamos conformados com este mundo, mas sim transformados pela renovação de nosso espírito, para que possamos discernir qual é a vontade Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito (cf. Rm 12, 2).



terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Encontro de Jesus com João Batista - 2



"Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo..."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Jo 1, 29-34)

Essa é uma das frases da Sagrada Escritura que mais me tocam. João Batista, que pela primeira vez encontrou-se com Jesus ainda quando os dois estavam no ventre de suas mães, encontra-se agora com Ele às margens do Rio Jordão - e o aponta, com a força de suas palavras:

Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!

Desde aquele encontro ainda cada qual no ventre de sua mãe, João Batista viveu para Jesus. Toda a sua vida foi dedicada a Ele, a preparar as pessoas para que pudessem receber Jesus. Para alertar aquele povo que o Messias seria diferente daquele que todos esperavam...

O que os olhos de João viram naquele dia, às margens do Rio Jordão,  para fazer tão importante proclamação?  Ele viu o Cordeiro... simbolo de um animal puro, cheio de simplicidade, bondade, mansidão, inocência - que era oferecido em sacrifício pela expiação dos pecados do povo de Israel. Os olhos aguçados de João previam até onde o Amor e a Missão de Cristo o levariam - até a cruz, onde por nós derramaria todo o seu Sangue.

Os olhos de João também viram o Cordeiro da Ceia Pascal... aquele que satisfazia a necessidade de sustento de seu povo. O Cristo é o Cordeiro que satisfaz todas as nossas necessidades espirituais, que pode saciar nossa sede de Deus, que pode curar as nossas feridas.

Os olhos de João viram o Cordeiro... o animal manso, que se deixa abater. O Cristo se ofereceu por nós, não foi obrigado por ninguém - ele se ofereceu por Amor... Amor a mim e a você.

Os olhos de João reconheceram em Cristo o Messias, aquele que todo o povo de Israel esperava. Aquele que iria rasgar o véu do templo de alto a baixo, abrindo para os homens, purificados pelo Seu Sangue derramado, a porta do céu e o olhar misericordioso do Pai.

Todos os discípulos que estavam com João Batista ouviram essa proclamação... e a partir daí, alguns se dispuseram a seguir o Cordeiro.

Hoje nossos ouvidos ouvem essa proclamação nas celebrações da Santa Missa. Nessa hora, levantamos nossos olhos para o Cordeiro, o Cristo Eucarístico, que se oferece por nós de uma vez por todas... Que nossos olhos consigam ver, em cada celebração, Aquele que morreu por Amor a cada um de nós. Ele, que está ali, vivo no meio de nós, ressuscitado, no altar, se oferecendo cheio de Amor. Na Hóstia Consagrada está Jesus, "rosto divino dos homens, rosto humano de Deus."

E como os discípulos de João que foram atrás de Jesus, que nós possamos também reconhecer que há um Caminho à nossa disposição. Um Caminho que significa Vida Nova, que nos leva a Comunhão com Deus, uma comunhão que pode transformar nosso coração com sua mansidão.

É para nós um tempo de graça: olhar para Jesus, que nos leva a presença do Pai, pois pelo Sangue do Cordeiro não há mais cortinas nem véus... Deus se revelou para nós. O céu se abriu e o Sol da Justiça brilha sobre nós.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Encontro de Jesus com João Batista - 1



“apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio”

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Lc 1, 39-45)

Esse pedacinho da Bíblia narra um fato marcante que pode ser resumido numa única frase: 

“apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio”

Não é difícil imaginar a cena em questão. Nossa Senhora e sua prima Isabel se abraçam, e seus ventres  se aproximam. E acontece, então, o primeiro encontro de Jesus com João Batista, os dois ainda no ventre de suas mães. A ligação destes dois meninos veio de longe. Penso mesmo que esta ligação se deu ainda no pensamento do Criador, pois ambos eram frutos da revelação divina, cuja geração se deu através de algo impossível – um é o Filho da Virgem, e o outro é o filho de uma mulher considerada estéril.  Assim como Maria e Isabel eram cumplices no mistério que transportavam em seus ventres também os dois meninos estavam intimamente ligados por este mistério e é por isso que a Bíblia diz que João pulou no ventre de Isabel com a presença de Jesus. Era um pulo de alegria e louvor!

João ainda não tinha nascido, mas já foi capaz de reconhecer a presença de Jesus que chegava ali através de Maria. João Batista foi, neste momento, um adorador na presença de Jesus. E a partir deste momento seus olhos sempre estariam fixos n’Ele.  João sabia que estava na presença de Deus, e transbordou de alegria e louvor. 

Que este encontro que aconteceu entre os dois meninos seja para nós um alerta. Precisamos ter um coração adorador. Um coração que saiba reconhecer a presença de Jesus e que essa presença transborde alegria em nossa vida e louvor em nossos lábios. Que ao entrarmos na igreja tenhamos a consciência da presença de Deus ali, e nos coloquemos em adoração. Que nossos olhos permaneçam em Cristo, reconhecendo que é a sua Luz que nos ilumina, e que precisamos da sua presença em nossa vida.

domingo, 3 de julho de 2011

Encontro de Jesus com os Doutores da Lei no Templo de Jerusalém



"Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Lc 2, 41-52)


Esta passagem conta um fato surpreendente... não apenas pelo Menino ter permanecido na cidade sem o conhecimento e consentimento de seus pais, mas por sua presença no Templo de Jerusalém. Os grandes homens sábios, que conheciam toda a Escritura e todas as Profecias tinham, naquele dia, por interlocutor um jovem de 12 anos... Um Menino simples, vindo de uma pequena cidade do interior, filho de um carpinteiro: certamente aqueles homens não entendiam de onde vinha todo o conhecimento dele.

A Bíblia diz que todos que o escutavam ficavam maravilhados... É fácil imaginar sobre o que Jesus falava. E o mais importante: o modo como Ele falava. Nem sempre conhecer as Escrituras significa "conhecer Deus". Os sábios doutores sabiam de cor cada um dos versículos e todas as profecias. Podiam citar palavra por palavra o que cada Livro continha... mas quantos ali "conheciam" realmente Deus?

As palavras do Menino irradiavam um profundo conhecimento de Seu Pai do Céu... O brilho dos seus olhos, o amor no seu tom de voz eram um grande testemunho da "intimidade" que Jesus tinha com Seu Pai.

Imaginem a cena: em volta do pequeno Menino havia muitos homens maduros, cultos, cheios de conhecimento e inteligência... mas todos eles se maravilhavam com a Sabedoria dele. Certamente seus corações ardiam e ansiavam por ouvir mais e mais Suas palavras.

Muito provavelmente alguns deles pensaram: "estudei tanto, li tanto durante tantos anos e não consigo "sentir" Deus assim como esse Menino..." Outros podem ter pensado assim: "como pode um Menino tão pequeno saber tanto sobre Deus???"

O certo é que, naquele dia, aqueles homens sábios tiveram um "encontro" diferente com Deus... um encontro com o Pequeno Menino Jesus e a Grandeza de Deus...

Que nós, a exemplo destes doutores, não nos deixemos cegar pelo conhecimento adquirido e nem façamos de nossos diplomas farol para nossa vida. Peçamos a Deus a verdadeira Sabedoria, aquela que nos fará "conhecer" o verdadeiro Deus que se fez Menino para nos ensinar que "ninguém vai ao Pai senão por mim..."


sábado, 14 de maio de 2011

Encontro de Jesus com Simeão



"...meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Lc 2, 27-35)

Sempre que leio esta passagem bíblica imagino como esta cena deve ter sido significativa para o velho Simeão. Consigo até imaginar que naquele dia, muito provavelmente, havia muitas pessoas no Templo de Jerusalém. Muitos sacerdotes, muitos levitas. Mas foi aquele homem simples e pobre, o idoso Simeão, quem primeiro viu o Menino Jesus chegar com seus pais. Simeão era um homem que praticava sua religião e ia sempre ao Templo. Ele esperava pelo Messias prometido por Deus. Diz o texto bíblico que, naquele dia, dirigiu-se para lá movido pelo Espírito Santo. E então, eis que ele tem a visão do Menino, nos braços de sua mãe. É muito fácil imaginar como seu rosto se iluminou... Imagine o sorriso em seu lábios e o brilho em seu olhar! E como Maria era uma pessoa muito atenta a tudo, a expressão do rosto de Simeão não lhe passou desapercebida. Ela percebeu a emoção daquele homem, e diante da ternura em seus olhos, ela gentilmente colocou o Menino Jesus nos braços dele, partilhando, assim, com ele a alegria da presença daquele pequenino Ser.

Que dia cheio de alegria e luz! É assim que ficamos quando temos um encontro com Jesus: nossas esperanças são renovadas e ficamos cheios de paz. O velho Simeão, já no final de sua vida, acolhe nos braços a Luz do Mundo... e seus olhos refletem essa luz que nasceu para a salvação de todos os povos. A luz em seus olhos era, nada mais, nada menos, do que resplendor da Glória de Deus. Suas orações sempre foram para que esse dia se realizasse: ele rezava por isso todos os dias, e sabia que, naquele bebezinho em seus braços já trêmulos, que ele contemplava com seus olhos cansados, vinha para cumprir as promessas de Deus e realizar as esperanças do povo de Israel.

Deixemos também que o Espírito Santo nos guie para um verdadeiro encontro com Jesus. E, como Simeão, abramos os nossos braços cansados para acolher Jesus... carinhosamente. E assim ele vai entrar em nosso coração, povoando nossos pensamentos e sentimentos. Que nossos olhos, tantas vezes sem brilho diante das agruras deste mundo, possam se abrir para a Luz que não se apaga... Depositemos no rostinho do Menino um beijo carinhoso... e certamente, nesta hora, suas pequenas mãozinhas vão afagar nosso rosto...



quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Encontro de Jesus com os Pastores de Belém


"Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor..."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Lc 2, 8-20)

Numa noite tranqüila e silenciosa, nas proximidades de Belém, próximo ao deserto da Judéia, alguns pastores estão em pleno trabalho, vigiando o seu rebanho. O céu está cheinho de estrelas e muito limpo; o ar é seco e frio... O silêncio chega a gritar nos ouvidos. Ao longe, escuta-se um tilintar dos sinos do pescoço de alguma das ovelhas que cochilam, deitadas. Próximo a elas está o cão de guarda que as vigia atentamente. O fogo está aceso – é inverno – e repentinamente uma luz misteriosa aparece o céu: um intenso clarão – parece que um raio rasgou a noite serena!

O texto bíblico diz que os pastores foram tomados de um grande temor... afinal, eles estavam cansados e sonolentos e foram surpreendidos por esta luz assombrosa e tão fora do normal. Eram pessoas simples, provavelmente rudes e ignorantes e eis que, repentinamente, uma voz misteriosa chega aos seus ouvidos:

“Eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.”

Podemos imaginar a sensação que percorreu aquele acampamento... que coisas estranhas e incompreensíveis estavam acontecendo! Talvez algum dos pastores pudesse ter pensado assim: “- estou com tanto sono que estou ouvindo vozes...” E perguntaria para os seus companheiros: “-vocês também ouviram isso? O Salvador? Cidade de Davi?” E os outros disseram: “-sim, sim, eu também ouvi!”

Aqueles homens rudes e ignorantes, com pouco ou nenhum estudo, foram capazes de compreender o que significavam aquelas palavras estranhas... era uma promessa, uma promessa de alegria. E precisavam verificar, por-se a caminho e ver com os seus próprios olhos... E então aconteceu: eles largaram tudo por lá: ovelhas, cabras, cães, comida...

Largaram tudo por que eram homens que buscavam a Deus. Eles “foram com grande pressa e acharam Maria e José e o Menino deitado numa manjedoura.”

Foi uma experiência marcante na vida daqueles homens. Por mais que vivessem, jamais esqueceriam. Nunca deve ter passado pela cabeça deles que receberiam a visita de Deus, através de uma multidão de anjos que cantavam numa noite escura... Quanta beleza e harmonia neste momento...

“Gloria a Deus nas alturas... e paz na terra aos homens por Ele amados”

E então eles voltaram à sua cidade... e devem ter contado essa história muitas e muitas vezes. Afinal, um encontro com Deus não pode ficar esquecido. Que a experiência dos pastores se repita na nossa vida.


Crédito a imagem: fotografia de Samuel Quedas, no Picasa

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Encontro de Jesus com os Reis Magos


"Vimos sua estrela... e viemos adorá-lo..."

Leia aqui a passagem bíblica correspondente (Mt 2, 1-12)

Eles eram reis e eram chamados de “magos”. Na realidade eles eram homens da ciência, estudiosos, muito provavelmente astrônomos, pois perceberam que aquela luz brilhando no céu era um fenômeno raro, que poucas vezes na vida poderia acontecer... Mas o certo é que eram homens atentos aos sinais dos céus, aos sinais de Deus e que acreditavam nas profecias. Por isso se puseram a caminho, seguindo a luz daquela estrela. Eram reis, eram magos, eram cientistas mas, acima de tudo, eram homens de fé. Saíram de sua terra em busca do Messias Salvador.

Não sei por quanto tempo eles andaram, quantos dias ou meses durou essa comovente viagem. Mas sei de uma coisa: o coração deles devia arder de tanta alegria e esperança! Eles tinham um coração faminto e sedento de Deus. Um coração que estava ansioso para encontrar aquele Menino...

Mas aconteceu que, no meio do caminho, eles ficaram confusos. Acharam que o Messias, aquele que seria o Rei do seu povo Israel só poderia nascer na grande cidade de Jerusalém, por isso foram bater na porta do Palácio de Herodes... e a luz daquela estrela que os guiava se apagou! Mas graças aos seus corações sensíveis, eles perceberam que a estrela só poderia ter-se apagado porque tinham se desviado do caminho certo... afinal, aquela luz era o próprio Menino que, de sua manjedoura iluminava o caminho de fé daqueles homens!

Saíram, então, do Palácio e se dirigiram à pequenina Belém, por uma estrada que foi novamente iluminada pela estrela... E quanta alegria eles devem ter sentido ao perceberam que a estrela voltara a brilhar! Eles estavam no caminho certo de novo! E encontraram o Menino... no silêncio daquela noite, na simplicidade daquela gruta... na companhia de José e Maria e de gente simples... E seus corações sensíveis perceberam mais uma verdade: não era a estrela que iluminava o caminho, era aquele Menininho que iluminava a estrela!

Ali estava Jesus... o Ser Divino que se fez humano, tão frágil e tão pequenino a ponto de caber numa manjedoura. E ali estavam também os Três Reis Magos. Cansados depois de uma longa viagem mas revigorados com aquele encontro tão especial. Jogaram-se aos pés do Menino Jesus e de dentro de seus corações tiram os presentes que Lhe trouxeram: cada um deu a Ele o que tinha de melhor... e o adoraram!

Que jornada emocionante empreenderam estes homens! Deixaram sua terra, seus parentes, seus amigos e percorreram um caminho em busca de Deus, porque este é o destino de todos nós: buscar e encontrar Deus.

Nesta longa caminhada que não sabemos de antemão quanto tempo vai durar, vamos precisar atravessar, assim como os magos, desertos escaldantes e noites escuras. Sim, pois a luz da estrela que um dia iluminou nossos olhos e fez arder nosso coração nem sempre estará brilhando... ela sofrerá eclipses. Nossa caminhada de fé é feita de dias claros e noites escuras, de auroras e crepúsculos... Em nossos dias sentiremos a alegria de poder caminhar, mas também sofreremos com o cansaço da jornada. Em algumas horas estaremos entusiasmados e em outras sucumbiremos ao desânimo. Mas precisamos seguir em frente, sempre com os olhos atentos aos sinais dos céus, com ouvidos sensíveis à voz de Deus.

Pois nos dias de hoje, quando não temos mais a Estrela de Belém no céu nem o Menino Jesus em Belém, é preciso sentir que esta Estrela está dentro de nós... e ela nos guia para o encontro com Deus, um Deus que está perto e sempre presente, que caminha ao nosso lado e que se manifesta nas pessoas e na nossa realidade.

Que nossa busca sincera por Deus seja sempre uma jornada apaixonante. Que nossa estrela não se apague e que nunca nos cansemos dessa procura... Que nossa atitude seja de alegria em testemunhar que O encontramos na simplicidade de nossa vida e que possamos seguir iluminados por aquilo que vivemos...


Crédito da imagem: http://www.papeldeparede.etc.br/


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O encontro




Ele passou pela terra fazendo o bem. Andou pela Judéia, pela Galiléia, passou por diversas cidades: Caná, Jerusalém, Nazaré, Jericó, Cafarnaum, ... por onde ele passava, juntava gente para vê-lo, para tocá-lo, e se perguntavam: “Quem é este que fala com tanto amor?”, ou ainda, “Quem é este que nos olha com tanta ternura?”

Muitos foram os que o viram passar, muitos tocaram seu manto, muitos ficaram curiosos e se questionaram... mas alguns tiveram um encontro muito marcante com ele. Um encontro que fez com que suas vidas mudassem profundamente.

Encontrar-se com Jesus é muito simples... Ele está sempre a caminho, cabe a nós procurá-lo... “Buscai e o achareis.” (Lc 11,9). A presença de Jesus é grandiosa e ao mesmo tempo simples: ele quer se relacionar com cada um de nós. Cabe a nós consentir nesta relação.

Pensei neste blog com o objetivo de refletir sobre aqueles encontros que aconteceram na época de Jesus, com todas aquelas pessoas que o viram pessoalmente. Para que, meditando cada um desses encontros, possamos facilitar o nosso encontro com Jesus ressuscitado, que vive e reina entre nós.

Bom encontro!


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011